Uma questão de quantis: um exemplo de como o QGIS melhora graças aos seus utilizadores
Uma questão de quantis: um exemplo de como o QGIS melhora graças aos seus utilizadores avatar

Fonte: Pedro Venâncio. Esta mapa não está relacionado com o exemplo reportado no artigo, tendo sido apresentado no workshop de Processamento e Análise com QGIS, que decorreu no 2.º Encontro de Utilizadores QGIS Portugal.

Na classificação das cartas (raster) de perigosidade e risco (por exemplo, as criadas no contexto da defesa da floresta contra incêndios), é frequente utilizar o método dos quantis para, a partir de um raster com valores contínuos, fazer uma discretização e obter um conjunto de classes.

No caso concreto das cartas de perigosidade e risco em Portugal, o ICNF propõe uma divisão em 5 classes quantílicas, remetendo, para cada classe, 20% das observações. Ou seja, a classificação da perigosidade e risco por quantis, deverá colocar 20% dos pixéis em cada classe de perigosidade e risco.

Este processo deveria ser sempre feito com recurso a ferramentas analíticas ou geo-estatísticas. Na caixa de ferramentas “Processing” do QGIS, podemos usar a ferramenta r.quantile.

Imaginemos então que a utilização da ferramenta r.quantile num mapa de perigosidade hipotético, gera o seguinte resultado:

0:20.000000:6.000000
1:40.000000:12.000000
2:60.000000:72.000000
3:80.000000:180.000000

Isto significa que:

a primeira classe é determinada pelo intervalo entre os pixeis com o valor mínimo do raster e os pixeis com valor 6 (<=6);

a segunda classe é determinada pelo intervalo de valores dos pixeis entre 6 e 12 (]6-12]);

a terceira classe é determinada pelo intervalo de valores dos pixeis entre 12 e 72 (]12-72]);

a quarta classe é determinada pelo intervalo de valores dos pixeis entre 72 e 180 (]72-180]);

a quinta classe é determinada pelo intervalo entre os pixeis com o valor 180 e os pixeis do raster com valor máximo (>180).

Nota: esta classificação pode ser confirmada/validada com recurso a outros softwares, como por exemplo o R, https://cran.r-project.org/.

No entanto, com muita frequência os utilizadores usam, simplesmente, a simbologia (raster ou vectorial) para classificar mapas deste género, por ser mais rápido e direto, particularmente para fins de visualização. O QGIS tem, também, opção para simbolizar rasters e vetores por quantis, no entanto, nas versões 3.12.2 e 3.10.5, o resultado da classificação em quantis de dados raster não coincide com o da análise geo-estatística:

Claramente trata-se de um BUG. Face a esta situação, alguns membros do grupo de utilizadores QGIS.PT (André Mano, Hugo Martins, João Gaspar, Nelson Silva e Pedro Venâncio) tomaram a iniciativa de FINANCIAR o trabalho necessário para a resolução deste problema. Assim, as próximas versões 3.12.3 e 3.10.6 do QGIS já não serão afetadas por este problema e a classificação por quantis a nível da simbologia raster irá devolver resultados iguais aos da analise geo-estatística:

Nota final:

Se acharem que este tipo de problemas só é encontrado em software livre, saibam que não. O mesmo tipo de bug existe no mais conhecido software de SIG proprietário, da ESRI, pelo menos desde 2011, altura em que tal situação foi reportada num congresso sobre SIG que teve lugar aqui em Portugal. De acordo com alguns testes a que conseguimos ter acesso, esse problema persiste nas suas versões mais recentes (10.7 e 2.4.1).

Estamos aqui, claramente, perante uma das grandes diferenças entre o software livre e o software proprietário, pois no primeiro, o utilizador tem a possibilidade de identificar, propor e financiar diretamente a correção dos bugs, estando a comunidade sempre no centro do projeto de desenvolvimento.

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